Importação de veículos da China contribui para queda de US$ 3,4 bilhões no superávit comercial
A alta de 432% (em valor) e de 473% (em quantidade) nas importações de veículos elétricos chineses no mês de junho, comparativamente com o mesmo mês de 2023 foi um dos principais responsáveis pela queda no superávit da balança comercial em junho passado, segundo avaliação do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). No mês, o saldo positivo foi de US$ 6,7 bilhões, uma queda de US$ 3,4 bilhões em relação a junho de 2023.
O Icomex avalia ainda que a piora no saldo se explica pelo recuo em valor de -1,9% nas exportações e aumento de +14,4% nas importações. O saldo da balança comercial no primeiro semestre de 2024 foi de US$ 42,3 bilhões, um recuo de US$ 2,3 bilhões em relação a igual período de 2023. No acumulado até junho, a variação no valor exportado foi de +1,4% e das importações de +3,9%.
A última projeção da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) é de um superávit de US$ 79,2 bilhões para 2024, a do Relatório Focus (12/07), de US$ 82 bilhões e a do modelo Ibre, em maio, de US$ 87,7 bilhões. Nossa estimativa é que deverá ficar entre US$ 78 e US$ 82 bilhões.
No mês de junho, se repete a tendência já observada desde maio. O volume exportado recua (-0,1%) e o importado cresce (+21,0%), na comparação entre os meses de junho de 2023 e 2024. Na comparação entre os primeiros semestres de 2023 e 2024, o volume exportado e o importado aumentam em +5,6% e +12,2%, respectivamente.
O recuo no volume exportado em junho foi liderado pelas exportações das não commodities (-16,6%), enquanto as commodities registraram aumento de +7,7%. Na comparação entre os dois primeiros semestres de 2023 e 2024, o mesmo comportamento se repete: queda de -7,6% das não commodities e aumento de +12,0 das commodities. No caso dos preços, foi registrada queda na comparação mensal (-3,3%) e semestral (-5,3%). O preço das não commodities aumentou em junho (+2,8%), mas no semestre caiu em (-0,2%).
Alta na participação das commodities nas vendas externas
A participação das commodities nas exportações totais do Brasil passou de 68% para 71%, entre o 1º semestre de 2023 e o de 2024. Esse é maior percentual desde 1997. Observa-se que no auge do boom das commodities era de 59%, em 2011. Em 2019, era de 62%, depois aumentou para valores entre 68% e 70% (2021). Durante a pandemia da Covid19, o percentual aumentou e depois não recuou.
O melhor desempenho das commodities foi liderado pela indústria extrativa, com aumento de volume de +11,1%, na comparação interanual do mês de junho e de +19,2% na do acumulado até junho entre 2023 e 2024. O volume exportado da agro cresceu +5,3%, mensal, e +4,7%, na comparação semestral. A variação na indústria de transformação foi negativa em junho (-5,9%) e positiva no acumulado do ano (+1,2%). Os preços caem na agropecuária na comparação mensal (-10,6%) e na semestral (-16,6%). A extrativa registrou aumento de preço em junho (+3,5%) e no semestre (+1,7%), enquanto as variações na indústria de transformação não chegam a um por cento. Com esses resultados, a participação da indústria extrativa foi de 25,4% superando a da agropecuária, 22,0%, no primeiro semestre de 2024. A da transformação foi de 52,6%, sendo que 50,3% das exportações dessa indústria são de commodities.
O resultado, em volume, da indústria extrativa em junho é explicado pelo desempenho das exportações de petróleo bruto, com variação de +31,6%, segundo dados divulgados na Balança Comercial da Secretaria de Comércio Exterior e participação de 12,8% nas exportações totais brasileiras. O minério de ferro, com participação de 8,9%, registrou queda em -3,0% no volume.
A composição das importações por setor no primeiro semestre de 2024 foi: agropecuária (2,3%); extrativa (6,7%); e transformação (91,1%). O Gráfico 5 mostra os índices de preços e volume por setor de atividade. As maiores variações positivas em volume são da agropecuária, +59,9% (mensal) e +38,4% (semestral). No entanto, a baixa participação do setor nas importações totais não explica o crescimento observado no volume total importado pelo Brasil. Assim, é o aumento na indústria de transformação, +23,0% (mensal) e +12,9% (semestre) que explica o resultado.
O Icomex chama a atenção para o fato de que a participação dos bens duráveis já foi maior em semestres anteriores: 7,5% no 1º semestre de 2011 e depois começou a declinar. Naquele período, a valorização cambial barateava
o preço das importações. Agora, esse aumento está relacionado principalmente aos veículos de passageiros, em especial veículos elétricos oriundos da China, como analisado no Icomex de junho.
Segundo a SECEX, as importações de todos os veículos de passageiros aumentaram em valor +432% e + 473%, em quantidade, entre os meses de junho de 2023 e 2024. Os veículos foram o principal produto importado, com participação de 8,9%, superando os óleos combustíveis, com participação de 5,8%.
A análise da pauta brasileira de importações da China por categoria de uso na base de dados do Icomex mostra que no primeiro semestre de 2022, a China explicava 19,2% das importações totais do Brasil de bens duráveis. No primeiro semestre de 2024, esse percentual subiu para 51%.
Em termos de volume exportado, os Estados Unidos lideram os resultados, segundo dados da Secex/MDIC. O principal produto exportado no 1º semestre foi o petróleo bruto, com participação de 16% e variação no valor entre os dois primeiros semestres de +108%. Óleos combustíveis foi o quarto produto, com participação de 4,6% e crescimento no valor de +202%, o que indica um comércio intrasetorial na área de petróleo. O segundo item foram os siderúrgicos e o terceiro, aeronaves. Em termos de participação nas exportações brasileiras, os Estados Unidos ocupam o segundo lugar, 11,5%, atrás da China, com participação de 30,9%. Com os Estados Unidos, o Brasil registrou um déficit de US$ 218 milhões e com a China, um superávit de US$ 22,6 bilhões.
A liderança nas importações, em termos de volume, foi da China e o principal produto importado foram veículos de passageiros, com aumento de +924%, em valor, e participação de 8,8%. A China é a principal origem das importações totais do Brasil, com participação de 23,3%, seguida dos Estados Unidos, com 15,5%.
Uma das consequências do aumento das importações de veículos elétricos da China foi a alteração no cronograma de recomposição das alíquotas para carros elétricos: 10% de Imposto de Importação em janeiro de 2024; 18% em julho de 2024; 25% em julho de 2025; e 35% em julho de 2026. A razão seria poder assegurar o fortalecimento da produção desses veículos no Brasil.
As perspectivas para a balança comercial não apresentam novas tendências, exceto um possível efeito negativo com as notícias sobre o menor crescimento
chinês. Isso poderá reduzir a demanda por importações da China e, ao mesmo tempo, intensificar a venda de produtos chineses no mercado internacional, o que tem aumentado o número de medidas protecionistas no mundo contra o país.
(*) Com informações da FGV/IBRE